quinta-feira, 24 de setembro de 2009

VOLTA AO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA


Segue uma dica para quem deseja mergulhar na carreira acadêmica pesquisando ficção científica. Orgazinado por Edgar Nolasco e Rodolfo Londero, Volta ao Mundo da Ficção Científica busca ampliar a pesquisa e a crítica brasileira sobre ficção científica. Interessante notar que este livro reflete a força da ficção científica dentro da academia (publicado pela editora da UFMS) e dentro de Mato Grosso do Sul. Para adquirir o livro, basta procurar a sede do NECC na UFMS ou escreva para rodolfolondero@bol.com.br

NOLASCO, Edgar Cézar; LONDERO, Rodolfo Rorato (org.). Volta ao Mundo da Ficção Científica. Campo Grande: Editora UFMS, 2007.

Abaixo a apresentação do livro:

Já se tornou lugar-comum - muito válido, por sinal - as apresentações das antologias de ficção científica brasileira apontarem a marginalidade do gênero no país. O que dizer, então, da pesquisa sobre ficção científica (ou FC) produzida por brasileiros? Desconsiderando as poucas obras esgotadas - a pioneira Introdução ao Estudo da "Science Fiction" (1967), de André Carneiro; A Ficção do Tempo: Análise da Narrativa de Science Fiction (1973), de Muniz Sodré; Ficção Científica: Ficção, Ciência ou uma Épica da Época? (1985), de Raul Fiker; O que É Ficção Científica (1986), de Braulio Tavares; Ficção Científica (1986), de Gilberto Schoereder; e Introdução a uma História da Ficção Científica (1987), de Léo Godoy Otero - temos atualmente apenas seis títulos: Viagem às Letras do Futuro: Extratos de Bordo da Ficção Científica: 1947-1975 (2002), de Francisco Alberto Skorupa; Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950 (2003), de Roberto de Sousa Causo; O Rasgão no Real: Metalinguagem e Simulacros na Narrativa de Ficção Científica (2005), de Braulio Tavares; A Construção do Imaginário Cyber: William Gibson, Criador da Cibercultura (2006), de Fábio Fernandes; Visões Perigosas: Uma Arque-Genealogia do Cyberpunk (2006), de Adriana Amaral; e Ficção Científica Brasileira: Mitos Culturais e Nacionalidade no País do Futuro (2005), de M. Elizabeth Ginway - sendo este último escrito, na verdade, por uma norte-americana que abraçou nosso país.

Este livro busca ampliar a pesquisa e a crítica brasileira sobre ficção científica. A proposta inicial era apenas trazer artigos que tratassem da ficção científica brasileira, como o são seis dos nove aqui apresentados. Entretanto, visto a importância de uma leitura brasileira da produção mundial, mais três artigos foram acrescentados. Por fim, para melhorar aquele quadro indicado no início desta apresentação, que infelizmente é um lugar-comum necessário, também publicamos um conto de ficção científica brasileira.

Entre os autores selecionados, buscamos aqueles ligados, de alguma forma, à pesquisa sobre ficção científica: cinco deles (Roberto Causo, Braulio Tavares, Fábio Fernandes, M. Elizabeth Ginway e André Carneiro) já publicaram livros sobre o assunto; quatro (Rodolfo Londero, Ramiro Giroldo, Alfredo Suppia e Anderson Gomes) trabalham em dissertações ou teses; e um (Edgar Nolasco) orienta uma dissertação, além de descobrir-se admirador do gênero.

Na verdade, Edgar Nolasco junta essa admiração recente com uma paixão antiga para resultar no primeiro artigo deste livro: Clarice e a ficção científica. Renomado pesquisador da obra de Clarice Lispector, Nolasco revela os contatos da escritora, principalmente como tradutora/adaptadora, com a trinca ficção científica, fantasia e horror, e como isto reflete em sua obra. Por fim, há uma análise da figura do alienígena no conto "Miss Algrave", publicado em A Via Crucis do Corpo (1974).

Já em Níveis de recepção da ficção cyberpunk no Brasil: um estudo de casos exemplares, Rodolfo Londero propõe-se a verificar como a ficção cyberpunk é assimilada pela literatura brasileira. Dada a complexidade do objetivo, o artigo busca operar através de três níveis de recepção: o "direto", o "indireto" e o "análogo". Surgido na década de 1980, no contexto social e tecnológico norte-americano, o cyberpunk retrata, num futuro próximo e distópico, uma sociedade globalizada, altamente tecnológica e midiática, dominada por valores hedonistas e niilistas e por corporações transnacionais.

Ficção científica e o despertar do interesse científico: o fator eureka mostra como a ficção científica tem despertado o interesse pela ciência em muitos de seus leitores e, principalmente, telespectadores, pois o artigo utiliza como exemplo vários filmes da FC mundial, inclusive dois brasileiros. Como afirma seu autor, Alfredo Suppia, "embora a FC não tenha a rigor nenhum compromisso com a educação científica, mas sim com o livre debate imaginativo, é provável que em diversas ocasiões o gênero desperte no público o interesse pela ciência, chegando mesmo a estabelecer algum nível de alfabetização científica".

Anderson Gomes, em História e representação: o jogo de memória e realidade em O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick, se concentra na maneira como a relação íntima entre "passado real" e "narrativa imaginada" é discutida no romance de Dick, e como essa obra exerce uma reflexão crítica sobre a questão histórico-cultural, especialmente nos Estados Unidos na segunda metade do século 20. Vale lembrar que O Homem do Castelo Alto (1962) foi relançado recentemente com uma nova tradução de Fábio Fernandes.

Por falar em Fábio Fernandes, é ele quem assina o artigo Para ver os homens invisíveis: a Intempol e sua influência na literatura de ficção científica brasileira. Discutindo inicialmente tipos de invisibilidade, o autor mostra como a ficção científica brasileira é acometida por uma invisibilidade cultural. Por fim, o projeto "Intempol", do qual ele participa, é apresentado como uma alternativa para esse mal.

Em A ficção científica no cordel, Braulio Tavares traça pontos de contato entre dois tipos de literatura (a ficção científica e o cordel) que, aparentemente, nada têm em comum, mas que, na verdade, sempre foram semelhantes e próximos. Nas palavras do autor: "Tentarei apontar algumas formas de entrelaçamento entre estas duas literaturas, que considero vastas, ricas, complexas, profundas, cheias de criatividade e de possibilidades de expansão no futuro".

Roberto Causo, em O poeta que viu o disco voador, analisa a noveleta O 31.º Peregrino (1993), de Rubens Teixeira Scavone, em seu diálogo com The Canterbury Tales (circa 1380), de Geoffrey Chaucer, seus efeitos como obra de horror e de ficção científica, e na transposição dos fenômenos modernos do OVNI e da "abdução" para o passado.

A cidade pós-moderna na ficção científica brasileira, da brasilianista norte-americana M. Elizabeth Ginway, discute a imagem da cidade na produção brasileira das décadas de 1980 e 90. Para tanto, a autora revisa contos como "Jogo Rápido" (1989), de Braulio Tavares, e romances como Piritas Siderais (1994), de Guilherme Kujawski.

Valendo-se da teoria sobre ficção utópica, Ramiro Giroldo, em Outra utopia, oferece uma interpretação alternativa de Amorquia (1991), de André Carneiro. Como deixa bem frisado: "Lidar com um texto de ficção científica como Amorquia por meio dos paradigmas do gênero utópico/distópico é uma alternativa que se apresenta". O autor também questiona a representação do tempo na obra. Aproveitando o embalo do artigo, apresentamos também um conto inédito de André Carneiro. Pensamento narra as relações de um casal de cientistas com uma experiência científica inusitada: o clone de um cérebro.

Enfim, não poderíamos fechar esta apresentação sem agradecer aos autores que colaboraram para o surgimento deste livro, especialmente a Roberto de Sousa Causo pela imensa ajuda prestada, tanto na revisão do original deste livro quanto na indicação de autores para esta coletânea.

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